A disputa pelo domínio discursivo dos alimentos ultraprocessados sob a perspectiva dos estudos de mercado construtivistas

Autores

  • Bruno Medeiros Ássimos Centro Universitário Unihorizontes, Programa de Pós-graduação em Administração – Belo Horizonte (MG), Brasil. https://orcid.org/0000-0003-1206-6376
  • Marcelo de Rezende Pinto Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-graduação em Administração Administração – Belo Horizonte (MG), Brasil. https://orcid.org/0000-0002-3251-2460

Palavras-chave:

Alimentos Ultraprocessados, Estudos de Mercado Construtivistas, Análise Discursiva

Resumo

Objetivo: Analisar como o termo ultraprocessado é abordado por diferentes agentes no mercado da alimentação, especialmente profissionais da ciência da nutrição, representantes do governo e da indústria alimentícia. Método: Por meio de entrevistas e análise de documentos, os dados foram analisados à luz da análise situacional, considerada uma nova geração da grounded theory. Principais Resultados: A pesquisa apontou que duas grandes visões disputam o domínio discursivo dos alimentos ultraprocessados: o discurso da nutrição, que promove a saúde pública, políticas alimentares baseadas em evidências e crítica à industrialização excessiva dos alimentos, fortemente ancorado no conceito de práticas normativas e de representação; e o discurso da tecnologia, que se sustenta nos princípios da ciência e tecnologia de alimentos, defendendo que todos os tipos de processamento, incluindo os industriais, podem ser seguros. O segundo tipo está mais associado às práticas de transação. Relevância / Originalidade: O estudo mostra como diferentes atores disputam o controle do discurso do conceito de alimento ultraprocessado, afetando o que é comunicado ao consumidor e, por consequência, sua capacidade de fazer escolhas alimentares informadas, além de entender como o próprio conceito é construído, disputado e mobilizado como instrumento de poder e influência no mercado. Contribuições Teóricas / Metodológicas: O artigo trata o termo ultraprocessado como um dispositivo sociotécnico performativo que afeta diretamente a formação de juízos de valor, o comportamento do consumidor e a organização do mercado. Além disso, mostra que atores como governo e indústria têm agência calculadora ampliada — equipada com poder, conhecimento técnico e dispositivos discursivos — capazes de influenciar os consumidores, que, por sua vez, têm uma agência limitada e dependente dos discursos dominantes.

e a disputa pelo domínio do termo ultraprocessado foi representado na arena posicional e é alvo de disputas dados os conflitos, as desigualdades e as lutas por poder em prol de dominá-lo. Essa arena é marcada pelos conflitos que envolvem qual ator consegue manter maior controle sobre o uso do discurso do termo ultraprocessado.

 

Relevância/originalidade: É possível apontar que o termo ultraprocessado é associado a alimentos que pioram a saúde humana e se tornou alvo de disputas entre os cientistas da área da saúde e os agentes da indústria.

 

Contribuições teóricas: As práticas de mercado de alimentos, o que inclui as disputas discursivas, seriam capazes de elevar o estado de vulnerabilidade do consumidor no que se refere ao seu conhecimento, o que poderia contribuir para aumentar o estado de insegurança alimentar e nutricional.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Adkins, N. R., & Ozanne, J. L. (2005). Critical consumer education: empowering the lowliterate consumer. Journal of Macromarketing, 25(2), 153-162. https://doi.org/10.1177/0276146705280626

Araujo, L. (2007). Markets, market-making and marketing. Marketing Theory, 7(3), 211226. https://doi.org/10.1177/1470593107080342

Araujo, L., Kjellberg, H., & Spencer, R. (2008). Market practices and forms: introduction to the special issue. Marketing Theory, 8(1), 5-14. https://doi.org/10.1177/1470593107086481

Baker, S. M., Gentry, J. W., & Rittenburg, T. L. (2005). Building understanding of the domain of consumer vulnerability. Journal of Macromarketing, 25(2), 128-139. https://doi.org/10.1177/0276146705280622

Bauer, M. W. & Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som (5 ed.). Vozes.

Çalişkan, K., & Callon, M. (2010). Economization, part 2: research programme for the study of markets. Economy and Society, 39(1), 1-32. https://doi.org/10.1080/03085140903424519

Callon, M. (1997). Actor-network theory: the market test (draft). In J. Law & J. Hassard (Eds.), Actor network and after workshop (pp. 181-195). Centre for Social Theory and Technology.

Callon, M. (1998a). An essay on framing and overflowing: economic externalities revisited by sociology. The Sociological Review, 46(Supl. 1), 244-269. https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1998.tb03477.x

Callon, M. (1998b). The laws of the markets. Blackwell.

Callon, M. (2009). Elaborating the notion of performativity. AEGIS le libellio d’, 5(1), 1829. Recuperado de http://lelibellio.com/libellio-vol-5-n1-printemps-2009/

Callon, M., & Muniesa, F. (2005). Peripheral vision: economic markets as calculative collective devices. Organization Studies, 26(8), 1229-1250. https://doi.org/10.1177/0170840605056393

Charmaz, K. (2009). A construção da teoria fundamentada. Artmed.

Clarke, A. E. (2003). Situational analyses: grounded theory mapping after the postmodern turn. Symbolic Interaction, 26(4), 553-576. https://doi.org/10.1525/si.2003.26.4.553

Clarke, A. E. (2005). Situational analysis: grounded theory after the postmodern turn. Sage.

Clarke, A. E., Friese, C., & Washburn, R. S. (2018). Situational analysis: grounded theory after the interpretative turn (2 ed.). SAGE.

Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) (2014). Seminário Pesquisa em SAN: Relatório Final. CONSEA. Recuperado de https://ceresan.net.br/wp-content/uploads/2019/01/Pesquisa_SAN_WEB.pdf

Dalmoro, M. (2023). Dimensões da construção do mercado de alimentos orgânicos. Organizações Rurais & Agroindustriais, 25(Ed. esp.), e1919.

Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2006). O planejamento da pesquisa qualitativa (2 ed.). Bookman.

Kjellberg, H., & Helgesson, C.-F. (2006). Multiple versions of markets: multiplicity and performativity in market practice. Industrial Marketing Management, 35(7), 839-855. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2006.05.011

Kjellberg, H., & Helgesson, C.-F. (2007). On the nature of markets and their practices. Marketing Theory, 7(2), 137-162. https://doi.org/10.1177/1470593107076862

Latour, B. (2005). Reassembling the social: an introduction to actor-network-theory. Oxford University Press.

Louzada, M., Ricardo, C., Steele, E., Levy, R., Cannon, G., & Monteiro, C. (2018). The share of ultra-processed foods determines the overall nutritional quality of diets in Brazil. Public Health Nutrition, 21(1), 94-102. https://doi.org/10.1017/s1368980017001434

Louzada, M. L. C., Costa, C. S., Souza, T. N., Cruz, G. L., Levy, R. B., & Monteiro, C. A. (2021). Impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde de crianças, adolescentes e adultos: revisão de escopo. Cadernos de Saúde Pública, 37(Supl. 1), e00323020. https://doi.org/10.1590/0102-311X00323020

Louzada, M. L. C., Cruz, G. L., Silva, K. A. A. N., Grassi, A. G. F., Andrade, G. C., Rauber, F., Levy, R. B., & Monteiro, C. A. (2023). Consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil: distribuição e evolução temporal 2008–2018. Revista de Saúde Pública, 57, 12. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2023057004744

Maciel, G. N., & Leme, P. H. M. V. (2023). Construção de mercados agroalimentares: uma abordagem sob a lente teórica dos estudos de mercado construtivistas (EMC). Organizações Rurais & Agroindustriais, 25(ed. esp.), e1997.

Mendonça, R. D., Pimenta, A. M., Gea, A., Fuente-Arrillaga, C., Martinez-Gonzalez, M. A., Lopes, A. C. S., & Bes-Rastrollo, M. (2016). Ultraprocessed food consumption and risk of overweight and obesity: the University of Navarra Follow-Up (SUN) cohort study. American Journal of Clinical Nutrition, 104(5), 1433-1440. https://doi.org/10.3945/ajcn.116.135004

Merabet, D. O. B. (2020). Estudos construtivistas de mercado e lógicas institucionais: proposição de um quadro analítico para uma organização do mercado brasileiro de alimentos orgânicos. Revista Gestão e Desenvolvimento, 17(3), 79-108. https://doi.org/10.25112/rgd.v17i3.2162

Ministério da Saúde (2014). Guia alimentar para a população brasileira (2 ed.). Ministério da Saúde. Recuperado de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf?utm_source=referral&utm_medium=site+idec&utm_campaign=ded+guia+alimentar

Monteiro, C. A., Cannon, G., Lawrence, M., Costa Louzada, M. L., & Machado, P. P. (2019). Ultra-processed foods, diet quality, and health using the NOVA classification system. FAO. Recuperado de https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/5277b379-0acb-4d97-a6a3-602774104629/content

Nestle, M. (2019). Uma verdade indigesta: como a indústria manipula a ciência do que comemos. Elefante.

Nøjgaard, M. Ø., & Bajde, D. (2020). Comparison and cross-pollination of two fields of market systems studies. Consumption Markets & Culture, 24(2), 125-146. https://doi.org/10.1080/10253866.2020.1713112

Oliveira, S. R. (2013). Configuração do mercado de alimentação local: um estudo com base na teoria ator-rede [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras]. Recuperado de https://repositorio.ufla.br/items/1670ef4c-1b68-422f-bb78-112b0865b195

Organização Pan-Americana da Saúde (2021). Mitigação das consequências diretas e indiretas da COVID-19 sobre a saúde e o bem-estar dos jovens nas Américas. Organização Pan-Americana da Saúde. Recuperado de https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/55304/OPASFPLHLCOVID19210037_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y pdf

Rego, R. A., Vialta, A., & Madi, L. (2018). Alimentos Industrializados: a importância para a sociedade brasileira. ITAL.

Ricci, B. C. S. M., Brasil, V. S., & Almeida, S. O. (2020). Labelling in self-service retail: can the presented form of nutritional information on packaging increase perceptions of healthiness and purchase intention? Brazilian Journal of Marketing, 19(2), 427-447.

Rico-Campà, A., Martínez-González, M. A., Alvarez-Alvarez, I., Mendonça, R. D., de la Fuente-Arrillaga, C., Gómez-Donoso, C., & Bes-Rastrollo, M. (2019). Association between consumption of ultra-processed foods and all cause mortality: SUN prospective cohort study. BMJ, 365, l1949. https://doi.org/10.1136/bmj.l1949

Santana, M. O., Guimarães, J. S., Leite, F. H. M., Mais, L. A., Horta, P. M., Martins, A. P. B., & Claro, R. M. (2020). Analysing persuasive marketing of ultra-processed foods on Brazilian television. International Journal of Public Health, 65(7), 1067-1077. https://doi.org/10.1007/s00038-020-01456-6

Scrinis, G. (2021). Nutricionismo: A ciência e a política do aconselhamento nutricional. Elefante.

Shultz, C. J., & Holbrook, M. B. (2009). The paradoxical relationships between marketing and vulnerability. Journal of Public Policy and Marketing, 28(1), 124-127. https://doi.org/10.1509/jppm.28.1.124

Srour, B., Fezeu, L. K., Kesse-Guyot, E., Allès, B., Méjean, C., Andrianasolo, R. M., Chazelas, E., Deschasaux, M., Hercberg, S., Galan, P., Monteiro, C. A., Julia, C., & Touvier, M. (2019). Ultra-processed food intake and risk of cardiovascular disease: prospective cohort study (NutriNet-Santé). British Medical Journal, 365, l1451. https://doi.org/10.1136/bmj.l1451

Swinburn, B. A., Kraak, V. I., Allender, S., Atkins, V. J., Baker, P. I., Bogard, J. R., Brinsden, H., Calvillo, A., Schutter, O., Devarajan, R., Ezzati, M., Friel, S., Goenka, S., Hammond, R. A., Hastings, G., Hawkes, C., Herrero, M., Hovmand, P. S., Howden, M., Jaacks, L. M., Kapetanaki, A. B., Kasman, M., Kuhnlein, H. V., Kumanyika, S. K., Larijani, B., Lobstein, T., Long, M. W., Matsudo, V. K. R., Mills, S. D. H., Morgan, G., Morshed, A., Nece, P. M., Pan, A., Patterson, D. W., Sacks, G., Shekar, M., Simmons, G. L., Smit, W., Tootee, A., Vandevijvere, S., Waterlander, W. E., Wolfenden, L., & Dietz, W. H. (2019). The global syndemic of obesity, undernutrition, and climate change: The Lancet Commission report. Lancet, 393(10173), 791-846. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(18)32822-8

Publicado

2025-11-14

Como Citar

Ássimos, B. M., & Pinto, M. de R. (2025). A disputa pelo domínio discursivo dos alimentos ultraprocessados sob a perspectiva dos estudos de mercado construtivistas . Internext. Recuperado de https://internext.espm.br/internext/article/view/832